Brincando de Deus

          Todos nós sabemos que a humanidade vive hoje  uma nova explosão tecnológica, a partir da expansão impressionante conseguida com o desenvolvimento da informática.O patamar atual da biotecnologia oferece ao homem a condição de alterar os códigos outrora secretos da vida. O ponto se configura grave, pois o potencial de ação sobre as estruturas é de intensidade dramática. A situação lembra a de uma criança pequena brincando em uma cristaleira, parecendo fazer crer que o ser humano poderia  alterar a natureza a seu bel prazer.  A origem histórica que desemboca neste tipo de ação é conhecida.  Iniciou-se com o erro de Descartes, que trouxe a idéia mecanicista da  vida, se projetando contra a visão animista, ou seja aquela que concebe os seres vivos providos de uma alma. René Descartes  partiu de um redondo engano, pois hoje se prova que não se pode  tratar a natureza e a vida de forma autoritária. Pode até parecer correto, mas hoje já se percebe que não é possível,  e muito perigoso, pois as reações da natureza contrariada não costumam ser amenas.
             Dentro desta falsa visão de mundo, observa-se  homens e mulheres abandonando os seus papéis. Com o advento da anticoncepção a mulher controlou a fertilidade. Pois bem, depois delegou o cuidado e a educação da prole a outrem; tudo bem, depois delegou o cuidado do lar e então sua feminilidade foi relegada. Surge agora a possibilidade técnica de se poder não mais menstruar. Este é  mais um estímulo à fuga do papel feminino -  menstruar para quê?
           E o homem, onde está  aquele ser forte, viril e decidido que todas as mulheres têm saudades?  Ele está  cada vez mais frágil, fraco, impotente, estressado, humilhado, castrado e  com a energia masculina consumida pelo modo antinatural que a vida vem sendo conduzida. Anulado o sexo forte transmuta-se para frágil.
            Pode  parecer paradoxal, mas para se construir um homem adequado é necessário uma boa mãe, feminina, aconchegante e  um pai também equilibrado, firme e bondoso. Os nossos homens e mulheres estão se extinguindo junto com as florestas nativas, com a pureza do ar e das águas e assim  perdendo os seus referenciais.
            A impunidade e a corrupção permitem a proliferação do desrespeito às leis do homem, porém as leis da natureza não aceitam suborno, nem podem de forma alguma ser  mudadas ou revogadas como já estão a querer.  Quando infringidas trazem sérios transtornos a todos, e é por isso que a existência na Terra  está se tornando penosa ... já estamos sofrendo.
Será possível reverter este estado de coisas?
É possível...
               O primeiro passo  seria o  trabalho individual no sentido do resgate de nossa própria ordem perdida.  Se estivermos desbloqueados,  começaremos a poder amar ao outro e ao planeta. O aumento da auto-estima e do autoconhecimento causa uma verdadeira cascata de luz, dentro de cada um,  que se irradia desencadeando uma corrente sem fim.
         O fluxo e o refluxo do amor, sabidamente a energia mais forte e poderosa que existe e de inextinguível capacidade criativa, enseja  a possibilidade da sensação de verdadeira felicidade e de paz interior e social. O trabalho nesta reversão deve ser diário e de todos,  para que a natureza e a vida neste nosso ninho chamado Terra não se deteriorem  e não se extingam. 

Dr. Jorge Ricardo dos Santos